“O
significado é de que não há significado”
Fernando Augusto Violin
“De facto, estas
tecnologias não apenas prolongam as propriedades de envio e recepção da
consciência, como penetram e modificam a consciência dos seus utilizadores. A
realidade virtual ainda está mais ajustada a nós. Acrescenta o tacto à visão e
audição e está mais próximo de revestir totalmente o sistema nervoso humano do
que alguma tecnologia até hoje o fez. Com a realidade virtual e a telepresença
permitida pela robótica projectamos literalmente para o exterior a nossa
consciência e vemo-la <<objectivamente>>. Esta é a primeira vez que
o homem o consegue fazer.
Com
a televisão e os computadores mudamos a localização do processamento de
informação de dentro dos nossos cérebros para ecrãs à frente dos nossos olhos,
em vez de por detrás. As tecnologias do vídeo dizem respeito não só ao nosso
cérebro, mas a todo o sistema nervoso e aos sentidos, criando condições para
uma nova psicologia.” (Kerckhove, 1997, p. 34-35)
Essa consideração de Kerckhove (1997) sobre as mídias
levou-me a pensar em outra hipótese para a experiência da televisão no ensino
de Sociologia. De acordo com Turner (2005), quando uma experiência apresenta-se
de maneira desconcertante para nós, num processo interior, buscamos nas
memórias evidencias do passado para lembrar-nos de experiências pelo menos
semelhantes e encontrar significado para aquilo que se apresenta no presente,
possibilitando um novo significado através de uma relação.
Segundo Kerckhove (1997), estas experiências envolvendo as
mídias eletrônicas parecem transpor esse processo para fora das nossas mentes mudando
a localização de processamento de informação para frente dos nossos olhos e
criando condições para uma nova psicologia. Dessa forma, não há a possibilidade
da produção de novos significados, dissolvendo-se a experiência na aparência
das formas prevalecendo a intensificação dos sentidos em que “o significado é de que não há
significado” e o que vale é a experiência da “vitalidade intensificada” (DEWEY,
1934 apud TURNER, 2005, p. 184).
A
utilização da televisão no ensino de Sociologia não possibilitaria a produção
de novos significados uma vez que a experiência está voltada para os processos
externos da experiência humana.
Referências
KERCKHOVE, Derrick de. A
pele da cultura. Lisboa, Portugal: Relógio D´Agua, 1997.
TURNER,
Victor. Dewey, Dilthey e Drama: um ensaio em Antropologia da Experiência
(primeira parte). Cadernos de Campo –
revista dos alunos de pós-graduação em antropologia social da USP, nº 13,
ano 14. São Paulo: PPGAS/USP, 2005,
p. 177-185.