Gente encontrei essa entrevista com Kerckhove e quis compartilhar, não sei se ja tinham lido mas é bem interessante. Leiam
Derrick de Kerckhove é professor do Departamento de Letras da
Universidade de Toronto, no Canadá, onde também ocupa o cargo de diretor do
McLuhan Program in Culture and Technology. Ele acompanha, como poucos, as
mudanças socioculturais provocadas pela popularização da internet e das
tecnologias da informação. Ex-assistente (e “herdeiro intelectual”) de Marshall
McLuhan, Derrick é autor de vários livros, como “Brainframes: Technology, Mind
and Business” (1991).
Nesta entrevista, concedida via
e-mail ao Vinícius Andrade Pereira, professor da UERJ e da ESPM, Derrick mostra
como essas novas tecnologias estão mudando o jeito de as pessoas se informarem.
Vamos começar considerando o impacto das novas tecnologias sobre o modo
como os jovens estão consumindo entretenimento… O que o senhor destacaria?
Veja o telefone celular, por
exemplo. Ele está distribuído mundialmente exceto, talvez, para jovens de
regiões extremamente pobres. O SMS (Short Message Service, o popular torpedo) é
barato e tem uma linguagem e uma cultura própria, desenvolvida no estilo
telegráfico de se digitar mensagens com o polegar.Textos que podem até ser mais
elaborados, mas ainda assim curtos, permitidos por equipamentos mais
sofisticados. Há também os games, os jogos eletrônicos.
Há muitos deles, formando a maior
indústria de entretenimento atualmente — maior mesmo que a própria indústria
cinematográfica — que deve ser interativa, porque o entretenimento, na sua
maior expressão, é em tempo real.
Isso significa que a indústria do
entretenimento hoje, sob a égide das novas tecnologias, deve ser participativa,
interativa, conectada e imediata. Formas de entretenimento com conteúdos
tradicionais como filmes, séries de TV e mesmo livros continuam a ser
consumidas, mas a ação real se dá para os jovens dentro de uma perspectiva do
“onde estou”, não em alguma ficção. Nesse sentido, talvez “consumo” não seja a
palavra exata . E mais, existem ainda as mídias sociais, tipo Facebook, Orkut e
MySpace, e mesmo os metaversos (Second Life, por exemplo) que promovem novos
playgrounds para os jovens. De maneira geral, as pessoas parecem não desfrutar
de softwares sociais para interconexões como faz a garotada, que está no auge
dessa onda.
E como as novas tecnologias estão mudando as maneiras das pessoas se
informarem?
Cada um de nós ocupa o centro de
uma esfera midiática eletrônica que nos apresenta todo tipo de informação, o
tempo todo, em qualquer lugar. McLuhan propôs que o meio é a mensagem, o
usuário é o conteúdo. Isso é verdade: nós estamos no centro de uma completa
imersão nas mídias e nos ambientes de informação.
As pessoas estão criando suas
próprias redes de informação, das mais imediatas (família e amigos), às
globais, através de blogs, comunidades virtuais e de softwares sociais. Podemos
dizer que as pessoas criam suas próprias informações coletivamente em sites
como a Wikipedia, por exemplo.
Criam tais informações de modo
individual e coletivamente através de sites como o del.icio.us ou o Flickr, por
exemplo. O conteúdo, o formato e a distribuição da informação mudaram também.
As informações são multimídia,
hipertextuais, etiquetadas (tagged), linkadas e interativas.
Como as universidades devem se “comportar” nesse contexto da cultura
digital?
Várias reformas deveriam ser
empreendidas a fim de permitir às universidades se beneficiarem das redes
sociais digitais, adaptando seus currículos e métodos de ensino, do mesmo modo
que seus métodos de avaliação, pesquisa e publicação. Mas as universidades não
estão com pressa de se integrarem plenamente às novas mídias. Sim, é verdade
que existem práticas tais como conteúdos de disciplinas que são dispostos da
forma de podcasting, e especulações em torno da Wikiversity, mas os estudantes
ainda têm que esperar o fim do lento processo de publicação das suas teses antes
que possam postular a um espaço profissional mais expressivo, dentro dos meios
acadêmicos. Parece injusto manter jovens doutores estudiosos privados de uma
publicação online e, desse modo , reduzir as chances de conquistarem mais
espaços de atuação, até que seus trabalhos sejam publicados no ritmo de lesma,
típico da publicação em papel.
O senhor tem viajado por todo o mundo, dando aulas e palestras em
diferentes países como Estados Unidos, Itália, Brasil e Japão, entre outros.
Como as novas tecnologias estão impactando essas culturas?
Penso que o importante para todas
as sociedades e também para todas as comunidades locais são o acesso e a
garantia de liberdades civis. O fornecimento de comunicação deveria ser uma das
responsabilidades principais do Estado, tanto quanto transporte, saúde,
segurança e outros serviços básicos. Contudo, observamos interesses variados
quanto à adoção de tecnologias de informação e de comunicação por diferentes
países. Testemunhamos, por exemplo, por muito tempo — e em vão — a resistência
da França contra a internet, para proteger o Minitel. E então, no começo dos
anos 90, ocorreu sua rápida recuperação no que diz respeito às taxas de adoção
da internet. Ou o caso da Itália, onde o acesso à internet ainda está em um
baixo patamar, de 31% da população, quando comparado aos 78% na Inglaterra. A
conseqüência de qualquer retardo na adoção dessas tecnologias é a promessa de
um crescimento econômico menor e mais lento. E isso se dá porque a capacidade
intelectual de um país não está sendo alimentada. É tão contraproducente para
um Estado frear ou resistir, através das suas leis, a formas de conectar
comunidades, quanto concentrar todas as energias da nação em uma única
indústria, como a do petróleo. Você precisa de ambos, músculos e cérebro, para
pôr um país em movimento.
O que o senhor diria
aos pais que estão educando seus filhos hoje? Quais seriam os limites e os
direitos de crianças que estão lidando todo o tempo com diferentes tipos de
mídias?
Este é o maior desafio da educação.
Mas é difícil encontrar professores que irão educar seus alunos para um uso
crítico da web. As mídias estão mudando tão rapidamente que as habilidades
requeridas para lidar com elas parecem, desde os primeiros dias da web,
reservadas às gerações mais novas. O que se pode ver, por exemplo, na idade de
Marc Andressen, 19 anos, quando desenvolveu o primeiro browser, o Mosaic. O
único modo dos pais intervirem eficientemente junto às “crianças online” é
partilhar a experiência com elas de vez em quando, mostrando através de
exemplos, usos adequados da mídia e se distanciando um pouco para ver como as
coisas vão… Dando um passo atrás para poder ver o quadro como um todo. Como
direitos das crianças, acho que são os mesmos que os dos adultos. Quero dizer,
você não invade a privacidade delas mais do que como você faz com um vizinho… :
O mundo online é uma extensão e não uma contradição ao mundo físico. Mas, como
em todas as coisas, há uma aceleração e multiplicação violenta dos efeitos de
qualquer meio e, no caso específico da internet, as possibilidades de se
escolher direções erradas estão multiplicadas.
Como o Brasil poderia aproveitar os celulares para acesso a serviços
básicos de cidadania, ou mesmo para votação?
Não conheço a cena política
brasileira o suficiente para falar com propriedade sobre isso…Mas posso afirmar
com certeza que, se o Brasil quer alavancar sua economia e assegurar o seu
papel como interlocutor no Primeiro Mundo, como está começando a acontecer, o
governo brasileiro deveria considerar a ideia de conectar todo o país,
começando com grandes concentrações da população, provendo conectividade de
graça para algumas favelas escolhidas sob certas condições, a fim de encorajar
o desenvolvimento e a maturação destas comunidades.
Fonte: http://www.cultura.gov.br/site/2008/08/25/internet-tambem-e-cultura-derrick-de-kerckhove/
Fonte: http://www.cultura.gov.br/site/2008/08/25/internet-tambem-e-cultura-derrick-de-kerckhove/